Mario Bellatin é uma ficção, sua existência e sua inserção no real se dão como linguagem, prótese, instrumento de múltiplas formas: palavra, imagem e ação. Literatura, cinema e performance são expressões dessa linguagem que se encontram em um mesmo espaço, seja porque Bellatin concebe seu processo artístico como um limiar entre as linguagens, seja porque articula os aspectos diferenciais dessas expressões em obras singulares, como Lecciones para una liebre muerta (2005), El gran vidrio (2007), Las dos Fridas (2008) ou La clase muerta (2011). A escrita se apresenta como ação literária orientada para a criação, interesse explícito no projeto Escribir sin escribir (2014), que inclui o “Congresso de duplos de Paris” entre outros. Nessa perspectiva, a criação é ato, manifestação política que provoca e ao mesmo tempo implica os meios oficiais, promovendo novas políticas de sensibilidade, segundo Jacques Rancière em Políticas do sensível (2005). Essa concepção nômade de escrita dissemina os dispositivos ao confrontá-los aos meios artísticos, convertidos em dispositivos de des-controle, ao esquivar o modelo, promovendo um modo de ver a obscuridade, conforme considera Agamben sobre o que é o contemporâneo (2009). Assim, a arte pode ser vista como fractal no processo de criação de sentido, onde a literatura experimenta a excrita, de acordo com Nancy em El sentido del mundo (2003). A escrita nômade se excreve em um movimento fractal de sentido, corresponde à plasticidade do espaço de ação da linguagem, seus modos de posicionamento no/sobre o mundo, definindo um processo de percepção e concepção que Bident permite avaliar em Les mouvements du neutre (2010). Um modo de percepção nos limites da percepção estabelece o movimento na direção do outro por meio da relação entre diferentes linguagens artísticas. Bellatin elabora, na sua obra, uma incisão no real que escapa ao hábito.
Palavras-chave: Mario Bellatin. Escrita nômade e ação literária. Limiares. Literatura e outras artes.