Os primeiros esboços de ficção de Lima Barreto encontram-se no Diário Íntimo e acompanham pari passu o exercício de criação de si mesmo no diário. Este trabalho pretende mostrar como modelos similares de concepção da subjetividade atuam na percepção/construção do eu e na criação destas primeiras tentativas de personagens. Longe da acusação de “personalismo” que lhe fez a crítica da época, e até contrariamente a ela, a intenção é pensar como uma certa noção de subjetividade funcionou como vaso comunicante entre a experiência individual, fortemente enraizada no contexto histórico pós-abolição no Brasil, e a ficção de Lima Barreto. Devido a isso, o autor seria o primeiro a produzir ficção no Brasil juntando, ao mesmo tempo, o estudo e a denúncia dos problemas que ele enfrentava diretamente no cotidiano (o romance como forma de conhecimento de si e do mundo contemporâneo) e o ânimo polêmico do humanismo iluminista, perceptível na atitude e dicção críticas. A conclusão é que Lima Barreto fez romances sociais norteado por inquietações próprias e muito marcantes, tendo incorporado como nenhum outro até então – por afinidade, não apenas por influência -- aquela atitude que levou os melhores escritores românticos europeus ao romance.
Palavras-chave: Lima Barreto. Romance. Primeira República.