Principalmente após o surgimento das importantes discussões suscitadas pela obra da crítica indiana Gayatri Spivak, Podem os subalternos falar, aumentaram as produções de textos sobre a problemática da “subalternidade” (ou da marginalidade na literatura), no plural. O texto aqui apresentado não se dedica efetivamente à problemática das subalternidades, mas a tangencia. Trata-se, mais efetivamente de refletir sobre marginalidades - no plural -, por entender que as próprias margens - individuais e/ou coletivas - podem levar a paragens diversas, dispersas, inclusive, em campos disciplinares também diversos. Da problemática dos portadores de vitiligo aos moradores de comunidades carentes, passando pela questão dos preconceitos raciais, sexuais, dentre inúmeros outros, o estudo das marginalidades não permite simplificações e reduções. Mas também se deve estar atento ao fato de que sempre há o risco das generalizações, difíceis de serem contidas. Na literatura, a confusão provocada no trato das marginalidades se apresenta, paradoxalmente, como um campo fértil e de necessário aprofundamento. O presente trabalho intenta estudar a questão das marginalidades, no que diz respeito à identidade das personagens femininas, negras, nas narrativas de Conceição Evaristo. A relação entre a vivência em “espaços de marginalidade” - sejam os mesmos relativos à pobreza das comunidades carentes ou ao sofrimento provocado pelo preconceito em relação aos negros e às mulheres - a literatura e a memória é um dos principais eixos das reflexões sobre literatura e marginalidade de “nas margens das narrativas de Conceição Evaristo”.