O presente trabalho procura, entre leituras diversas de trechos de obras de autores diversos (e, por vezes, distantes), imagens ou cenas – enfaticamente duas extraídas de prosas do autor alemão W.G. Sebald – para fundamentar uma discussão sobre o lugar e/ou o papel, na contemporaneidade, da literatura – em sentido amplo, incorporando o fazer literário, a recepção crítica e outras vias de circulação da literatura –, enfrentando a insistência da indagação (e da ausência de resposta definitiva) a respeito de “o que é a literatura”. Propõe-se como problema e, concomitantemente, como potência (abertura de possibilidades), o reconhecimento da literatura no gesto mesmo de se insistir com a literatura. Insistir diante da possibilidade de se negar ou de se silenciar o discurso e a prática literárias; insistir com a literatura ainda que o seu fazer (ou seus fazeres, incluindo aí a leitura mundana ou acadêmica, assim como a escrita em suas faces crítica e teórica) aponte para a ausência de seu ser ou de seu objeto (pois não se sabe bem o que é nem qual seria propriamente o objeto da literatura); partindo destas perspectivas, desenhou-se uma aproximação produtiva entre literatura e melancolia (ou figurações da melancolia, destacando-se a perspectiva freudiana apropriada por Giorgio Agamben), tendo como ponto de partida e de chegada a imagem do escritor isolado perante a tarefa da escrita.
Palavras-chave: Literatura. Contemporaneidade. Melancolia.