A multiplicidade da prosa de ficção brasileira pós-moderna a insere num contexto de convivência, ou tensão, entre tradição e renovação, quando o poder homogeneizador da globalização econômica e cultural entra em conflito com os ideais de afirmação de identidade cultural ou nacional (RESENDE, 2008). Ademais, se a pós-modernidade remete a um período histórico no qual são questionados os fundamentos filosóficos das ciências e das artes, é inevitável que semelhantemente sejam questionados os fundamentos nos quais se colocam o local e o universal (EAGLETON, 1998). O cerne da questão se encontraria em uma concepção dialética da oposição local e universal, na qual coexistem o cosmopolita e o nacionalista. Também cabe um questionamento da noção de universal como critério de consagração e como ideologia, baseada na tradição da cultura hegemônica que oculta a ordem mundial desequilibrada e desigual da qual o local está impregnado (SCHWARZ, 2012). Consideramos que essa dualidade assume diversos matizes na ficção brasileira contemporânea, na qual coexistem textos com maior ou menor adesão a uma brasilidade, e evidencia a necessidade de consideramos apropriada uma perspectiva onde a transculturação (RAMA, 2008) e os processos de hibridação (CANCLÍNI, 2006), enquanto fenômenos culturais sincréticos, são estetizados a partir de uma concepção dialética de pós-modernismo, na qual coadunam a ruptura e a permanência (JAMESON, 2007). Essas questões são problematizadas partir do estudo de quatro romances que tematizam a construção da memória de imigrantes e seus descendentes: Dois irmãos (2000), de Milton Hatoum; Mamma, son tanto felice (2005), de Luiz Ruffato; O sol se põe em São Paulo (2007), de Bernardo Carvalho e Diário da queda (2011), de Michel Laub.