Michel de Certeau (2008) lembra que, na Atenas contemporânea, os transportes coletivos se chamam metaphorai. “Para ir para o trabalho ou voltar para casa, toma-se uma “metáfora” – um ônibus ou um trem”. A partir disso, o autor diz que os relatos poderiam igualmente ter este nome, porque todo dia “atravessam e organizam lugares; eles os selecionam e os reúnem num só conjunto, deles fazem frases e itinerários. São os percursos do espaço” (CERTEAU, 2008, p.199). Se as estruturas narrativas têm valor de sintaxes espaciais, significa dizer que todo texto é uma prática de espaço, promovendo uma viagem a quem a ele tiver acesso. A comunicação proposta trata do romance Menino oculto (2005), de Godofredo de Oliveira Neto, obra que reúne espacialidades em dois planos narrativos: nos relatos do protagonista Aimoré e nos quadros por ele pintados. O livro traz duas geografias de ações, a primeira delas a partir da narração do personagem principal, e a segunda instaurada nos quadros falsificados por ele, o mais conhecido, espécie de “obra-prima” do falsário, Menino Morto (1955) de Candido Portinari (1903-1962). Ele vende cópias desta obra no exterior, alegando sempre se tratar do “verdadeiro quadro”. Também falsifica obras de Iberê Camargo. Tudo te é falso e inútil é pintado pelo protagonista 38 vezes, Mesa com cinco carretéis “umas dez vezes”. Neste romance, nos deparamos com espaços bem delimitados. De um lado, os espaços da vida do protagonista. Por outro, a geografia dos quadros, cujas espacialidades silenciosas são possíveis no campo da arte. Pensando na dicção própria da contemporaneidade, este trabalho tem como objetivo investigar as zonas de contato entre diferentes manifestações artísticas, pensando hibridismo e espaço como conceitos de eleição.
Palavras-chave: Hibridismo. Espaço. Literatura contemporânea.