Pretende-se demonstrar de que forma os escritores angolanos Pepetela com o romance Mayombe e Boaventura Cardoso, com a obra Noites de Vigília, relacionam literatura, história e memória, evocando vozes capazes de desvelar alguns dos sentidos criados pela história oficial. Assim, por meio de histórias, vivências e experiências vários personagens proporcionam uma reconstituição do passado, permitindo a (re)construção de novos discursos sobre o sistema colonialista e anticolonialista, assim como da própria formação histórica de Angola. Dessa forma, história e ficção parecem cruzar planos, promovendo uma releitura do passado histórico do povo angolano e os processos memoráveis identificados nas narrativas podem ajudar na reinterpretação e ressignificação de fatos, criando novas imagens e linguagens capazes de (re)ensinar e (re)traçar os caminhos genuínos em direção aos costumes tradicionais como formas de resistência cultural, política e social de Angola. Apresentando temáticas muito similares, muito embora com abordagens distintas, as obras mencionadas apresentam, em grandes partes das narrativas, um regresso ao passado em movimento da memória a fim da incansável busca pela angolanidade e a favor da concretização da identidade nacional. Se por um lado Mayombe tenta abordar o movimento que antecede a independência de Angola, tendo como foco principal as ações de guerrilhas, Noites de Vigília nasce como uma espécie de revisionismo desse movimento, proporcionando uma releitura de fatos e acontecimentos a partir de diferentes olhares e de discursos que não são tomados pelo princípio da contraditoriedade, apenas apresentam as duas faces de um período que marcou cultural e politicamente a sociedade angolana.
Palavras-chave: Mayombe; Noites de Vigília; Literatura; História; Memória.