Neste artigo a autora discute a recepção de “O percevejo” e “Sobre isto” de Vladímir Maiakóvski no Brasil e, em particular, a citação do poeta russo no romance Desde que o samba é samba. A alternativa dada parece ser inseri-la dentro de uma história do abuso da obra do poeta entre nós. Maiakóvski carregou e ainda carrega o fardo de “poeta da revolução”, e faz-se com que empregue um tom triunfalista. Paulo Lins mantém este tom, mas se relaciona de modo surpreendente com a tendenciosa leitura recebida. A aproximação do discurso poético com a arte negra brasileira urbana feita por Lins indica uma possível redefinição das fronteiras tradicionais entre arte popular e de vanguarda, e entre folclore e arte. Até hoje, a experiência do negro no Brasil foi abordada como material pela arte de vanguarda e não como tema de uma arte moderna e negra brasileira. O modernismo e sua sucessora, a Tropicália, se caracterizaram por brincar com os símbolos da cultura popular, que no entanto permanece como material. Lins parece argumentar que os músicos que criaram o samba como gênero musical autônomo também se alimentaram da cultura popular para fazer um tipo de arte moderna que incorpora as especificidades da vivência negra brasileira, como a compreensão da música como traço de união entre homens e santos.
Palavras-chave: Literatura soviética. Literatura negra brasileira. Música negra brasileira.