Ana Carolina Mesquita, Orientadora: Ana Paula Sá e Souza Pacheco
As obras de Virginia Woolf e Clarice Lispector suscitam reflexões sobre a autotextualidade (JENNY, 1979) e a intertexualidade enquanto estratégias narrativas da modernidade, especialmente no tocante ao fragmento – uma poética que recorre à reescrita e recombinação de textos, ou à escritura como repetição. O reemprego e/ou citação dos próprios textos na criação de “novos” escritos caracteriza o recurso autotextual, que integra o complexo processo literário de diversos autores da modernidade, como Joyce e Proust. Aqui examinaremos os casos da inglesa Virginia Woolf e da brasileira Clarice Lispector, duas das autoras mais importantes do século XX, pois, em que pesem suas diferenças, ambas se valem do jogo autorreferencial. Nelas, o autotextual problematiza tanto o fato de que nos processos de linguagem inexiste qualquer “discurso original” (ao menos não além do ponto de vista metafísico) quanto o de a própria subjetividade encontrar-se limitada por um mundo dialógico de discursos e contextos que se repetem e se modificam por iterabilidade (DERRIDA, 1982). A narrativa torna-se, assim, espaço do sujeito que busca a si mesmo, mas que, ao fazê-lo, confronta-se com o drama da linguagem: a única coisa que ele alcança é o próprio ato de (se) escrever. Para ilustrar esta análise, mostraremos aspectos da criação de Mrs. Dalloway à luz especialmente dos diários de Woolf, que serviam de matriz para outros textos, e, de modo semelhante, da relação genética entre A paixão segundo G.H. e textos claricianos anteriores.
Palavras-chave: Autotextualidade. Intertextualidade. Virginia Woolf. Clarice Lispector.