A poesia de Paulo Leminski (1944-1989) está marcada pela diversidade e pelo relativismo, construídos por meio da mistura de elementos aparentemente não conciliáveis como o saber erudito e a linguagem coloquial, o tom de vanguarda e a influência pop, a síntese poética e o prosaico, ou ainda, a reunião de diversas culturas como a japonesa, a polonesa e a brasileira. Em ensaio publicado em 1983, Leyla Perrone-Moisés cunha o termo “Samurai Malandro”, usado para compor sua análise do livro “Caprichos e Relaxos”, publicado pela Brasiliense, no mesmo ano. No ensaio, a autora expõe as habilidades de um poeta que “internacional e provinciano, [...] é brasileiríssimo. Mestiço, antropófago, poetiza, sem folclore, Oxála e frevo, pajés e xavantes. Parisa, novaiorquiza, moscoviteia, sem tirar o pé do chão.”(PERRONE-MOISÉS, 2000, p. 237).
Tal afirmação, à época bastante pioneira em termos de crítica acadêmica sobre a obra leminskiana, foi assimilada, explorada e ampliada, principalmente depois do falecimento do poeta em 1989 e a cosequente repercussão de seus poemas e demais livros.
Por ora, a intenção é investigar um aspecto menos explorado na poesia de Leminski, pretende-se sondar em meio às tantas influências, afluências e misturas, algumas marcas do elemento negro em suas obras, desde os poemas às biografias, percebendo como tal componente se estabelece e as relações que propõe. Para esta análise foi escolhida a biografia de Cruz e Sousa e, em contraponto, o livro Toda Poesia, o qual reúne a gama completa de seus poemas. Assim o intuito de trabalhar com uma obra à luz da outra é lançar alguns questionamentos sobre uma marca aparente em sua obra completa de poesia: a pouca presença de poemas de temática negra, porém uma enorme presença de poemas sobre a diversidade, a mestiçagem, a relatividade.