O século XX é marcado por uma imensidão de acontecimentos catastróficos que provocaram ressonâncias na produção literária escrita durante e/ou sobre o período, dentre as quais podemos destacar o surgimento de um subgênero narrativo: o testemunho (CORNELSEN, 2011, p.10). Tais textos caracterizam-se por trazem o relato dos sobreviventes de eventos limites. Os estudos sobre esse subgênero formam um vasto campo de investigação, mas que se encontra, ainda, em formulação. Com o intuído de contribuir para tais discussões, propomos algumas reflexões teóricas sobre um viés pouco delimitado: o das narrativas ficcionais que abordam as ditaduras militares que assolaram a América Latinas por volta da década de 1960, mais precisamente os contos pós-64 . Partimos da hipótese que para lançarmos mão da teoria do testemunho na análise de tais textos é necessário atentar para a distinção composicional e temática que existem entre as narrativas testemunhais que tratam da exploração econômica e da repressão às minorias, e as que abordam as ditaduras que assolaram o continente, textos, atualmente, englobados em um mesmo grupo, o das narrativas de Testimonio. Essa delimitação torna-se necessária por as narrativas dialogarem, estéticamente, com as narrativas da Shoah, uma vez que ambas tratam de fatos e de eventos excepcionais, ligados a situações extremas de violência e a um contexto político peculiar, tendo sua composição intricada ao seu carácter de registro e/ou busca por uma verdade, ou seja, são narrativas “fruto da necessidade de se relatar sobre as violências atravessadas por aquele que narra” (CORNELSEN, 2011, p. 10). Para tal análise, iremos nos basear, principalmente, nas formulações sobre o conceito de testemunho de Márcio Seligmann-Silva (2003), Valéria De Marco (2004) e Élcio Cornelsen (2011).
Palavras-chave: Literatura de Testemunho, Contos pós-64, Regime Militar