Joana Kelly Marques de Souza (UFRN), Nadier Pereira dos Santos (UFRN)
Na Poética, Aristóteles já problematiza a relação entre poesia e história ao afirmar a superioridade da primeira, que confere uma lógica causal a uma ordenação de acontecimentos, sobre a segunda, condenada a apresentar os acontecimentos segundo a desordem empírica deles. Também é verdade, como afirma o filósofo francês Jacques Rancière, que a ficção de um escritor como Balzac pode permitir a leitura de uma época e de uma sociedade a partir dos traços, vestimentas ou gestos de um indivíduo qualquer. Tendo em vista essa discussão, o trabalho tem por objetivo pensar de que maneira a ficção se relaciona com os discursos históricos. Para tanto, partindo de análises realizadas por Michel Foucault e Roland Barthes, que problematizam os discursos históricos e os desqualificam em suas tentativas de se mostrarem meramente objetivos, totalizantes ou dotados de significações teleológicas, buscar-se-á em alguns textos de ficção do alemão W. G. Sebald e do chileno Roberto Bolaño como os dois autores tratam violentos acontecimentos históricos do século XX por meio da especificidade da ficção e as possibilidades que abrem para repensar a racionalidade histórica e social estabelecida. Finalmente, a partir de Rancière, o trabalho tenta compreender como a ficção pode dramatizar a História e construir estruturas inteligíveis capazes de competir com interpretações privilegiadas e possibilitar mudanças na percepção da realidade.
Palavras-chave: FICÇÃO, HISTÓRIA, JACQUES RANCIÈRE