Segundo Eduard Glissant (2002), “a natureza tem a sua linguagem”. Com base nesta assertiva, o presente trabalho objetiva traçar um paralelo entre as novelas La vorágine (1924) de José Eustaquio Rivera, Doña Bárbara (1929) de Rómulo Gallegos e Los pasos perdidos (1953) de Alejo Carpentier e formular um gênero específico da novela hispano-americana desde a íntima relação com o espaço selvático e os llanos. Aborda-se a relação entre natureza (paisagem, lugar, espaço) e episteme cultural (cosmovisão, ethos, identidade), considerando dois aspectos fundamentais: a representação da natureza como produto cultural e os lugares e os espaços que se configuram na articulação da significação das narrativas. A relevância de analisar este tema leva em consideração o fator do inconsciente político nas novelas ( a literatura como meditação simbólica dos destinos da comunidade), pois a estetização do mundo natural americano recorre à projeção da episteme cultural em um processo histórico específico através da construção de um discurso crítico desde a marginalização e barbárie na América-latina (a escritura e o logos, genocídio de indígenas, escravidão, exploração, caudilhismo, roubo). Para Mejía Vallejo Apud Mesa (1993), “la naturaleza se nos mete espírito adentro”, ou seja, a natureza é representação da própria condição humana material e existencial. A natureza que surge como cenário das verdadeiras tragédias que assolam a realidade histórica-social do continente é também, conforme Moreno-Durán apud Mesa (1993), a imposição da barbárie quanto aos conflitos sociais e crimes étnicos. A natureza ecoa a voz da angústia, da procura e da violência que indica uma característica peculiar que envolve as três obras mencionadas.
Palavras-chave: novela hispano-americana, natureza e episteme cultural, marginalização e barbárie