Everton Luis TEIXEIRA (UFPA), Sílvio Augusto de Oliveira HOLANDA (UFPA)
Este trabalho propõe um estudo comparativo entre Grande sertão: veredas (1956), de Guimarães Rosa, e a historiografia de Eric Hobsbawm, enfeixada em títulos como Bandidos (1969) e Era dos Extremos (1994). No presente exame espera-se demonstrar como a história do Ocidente no século XX infiltra-se na particular inscrita nas páginas desse autor brasileiro e em seu remoto sertão caracterizado pelo protagonista Riobaldo como sendo o próprio mundo. Este espaço geográfico se erige tal qual uma metonímia de todos os lugares, expressão do conceito de “aldeia global” cunhado por McLuhan (1911-1980) e distante, por assim dizer, de uma espécie de saudosismo sertanejo. Exemplos dessa ressonância da história ocidental abundam nesse romance como os grandes fenômenos apontados por Hobsbawm vivenciados no século passado: a emancipação feminina e a crítica aos modelos liberais, os quais originaram os grupos de bandidos sociais e as práticas de barbárie por estes cometidas que forjaram em algumas regiões do globo um acontecimento específico na passagem do século XIX para o XX: a eclosão dos primeiros Estados-paralelos de origem rural. Tanto o tema da “nova mulher”, quanto o das origens e evolução dos movimentos de resistência social são de grande relevância tanto para a obra rosiana, quanto para parte do trabalho deste intelectual britânico. Ao deitar um estudo comparativo entre as produções literárias e as narrativas históricas, esta comunicação analisa o percurso traçado pelas sociedades ocidentais no breve século XX no intuito de encontrar outras formas de subexistir em meio à desintegração dos valores político-culturais desenhados pelo iluminismo setecentista. Integrando estas construções estético-científicas é possível estabelecer uma interpretação mais completa de uma das muitas faces da realidade contemporânea, enfeixada numa época em que o globo perplexo observou ruir impérios coloniais e a civilidade diante da barbárie praticada em zonas, como o sertão (real ou metafórico), e