O presente estudo objetiva tecer uma relação entre a linguagem empregada por Clarice Lispector no romance Água Viva, de 1973 e o texto intitulado “Sobrevivência dos vaga-lumes” do filósofo e crítico de arte Georges Didi-Huberman como forma de destacar que a linguagem utilizada por Clarice Lispector no livro em questão é o apogeu daquela linguagem que foge a qualquer modelo de representação clássica que a autora incessantemente buscou desconstruir ao longo de sua obra. Para discorrer a respeito da linguagem posposta por Lispector, isto é, a linguagem do instante-já, que buscava atingir a quarta dimensão da palavra, o é da coisa, primeiramente, me aproprio do estudo de Focault em As palavras e as coisas no intuito de entender a transformação que ocorreu na passagem da era clássica para a era moderna e quais implicações esse processo trouxe para a linguagem para, assim, caminhar em direção ao texto de Didi-Huberman que trata da sobrevivência dos vaga-lumes como a metáfora do ser humano que resiste "apesar de tudo" a fim de relacioná-lo ao texto de Lispector com objetivo de afirmar que trata-se da metáfora da linguagem aurática, uma linguagem vaga-lume que emite luz após resistir à linguagem nomeadora, àquela que perde seu lugar fixo e se reinventa, tornando-se, assim, uma imagem vaga-lume: lampejos de uma linguagem fugidia que escapa à representação clássica. Portanto, relacionar a escrita de Clarice em diálogo com o texto de Didi-Huberman permite perceber a existência de uma linguagem que se faz no intervalo, no entre, no movimento do “acende e paga” e que, por isso, é impossível de se apreender, que escapula não deixando com que gênero algum a classifique, como afirma a própria personagem do romance Água viva.