Esta comunicação abordará alguns modos pelos quais a invenção ficcional de Mário de Andrade se valeu de procedimentos ou técnicas próprias dos meios de comunicação de massa, como cinema, rádio e jornal para constituir-se como objeto artístico. Na intersecção entre códigos artísticos e no aproveitamento de técnicas alheias à literatura encontram-se parte significativa da experimentação de Mário de Andrade que podem subordinar a sua propagada missão nacionalista à invenção de formas novas de ler e produzir literatura, em outros termos, à ampliação das técnicas de representação literária. Esses experimentos ficcionais (ficções que abusam do fantástico e evidenciam a arbitrariedade do uso da linguagem na produção literária) podem ser definidos, no caso de Mário de Andrade, como a incorporação de outros códigos artísticos, alheios à literatura, na composição do trabalho do escritor. Dessa forma, a linguagem cinematográfica é essencial na composição de Amar, verbo intransitivo; a musical, na composição de Macunaíma, a jornalística serve como palimpsesto de “Histórias com data” e a publicitária em “Moral Quotidiana”. Em outros termos, ao teatralizar o caráter arbitrário de sua invenção estética, e evidenciar tecnicamente na página em branco a materialidade de composição de seus textos, enfatizando nas obras, a incorporação de convenções gráficas que expressam outros códigos artísticos como cinema, música e publicidade, Mário traduz como signo elementos que a crítica sociológica negligencia no processo de interpretação da obra deste autor, mas que são fundamentais na sua estética: diagramação, espaçamentos, uso de caixa alta, desenhos; assim como todo o aparato material do livro como produto de uma indústria cultural: resenhas, discussões, cartas aos amigos de interpretação da obra, etc. Esses elementos condicionam a leitura da obra, ao mesmo tempo em que evidenciam a arbitrariedade do sistema de representação em funcionamento nos textos modernos de Mário de Andrade.
Palavras-chave: Mário de Andrade;, experimentação estética, indústria cultural