O presente trabalho procura realizar uma análise comparativa entre duas significativas obras da moderna literatura angolana, ou seja, Mayombe (1980) e A Geração da Utopia (1992), de um dos escritores mais célebres e premiados de Angola: Pepetela. Procura-se desenvolver um estudo analítico e comparativo, entre os elementos estéticos e estruturais de ambas as obras, focalizando para esta oportunidade a análise das personagens femininas, principalmente àquelas que aparecem como protagonistas das narrativas. Buscamos observar o papel social e político que a figura da mulher representa, bem como a composição estética e crítica que o autor cria, na perspectiva da denúncia da situação de subordinação em que as mesmas sobrevivem, assim como pela necessidade de apresentar, através das falas das próprias personagens, que também figuram como narradoras, a produção de sujeitos, os discursos de resistência às formas tradicionais de sujeição da mulher, também as produções de sujeitos na modernidade, no sentido da construção de uma subjetividade autoral e autônoma, e nas formas de afrontamento de uma realidade que ainda prega um discurso paternalista e de negação da figura da mulher, num cenário permeado por guerras e por desejos de construção e reinvenção de uma nova identidade, sendo ela fragmentada, instável e múltipla. A justificativa para o estudo proposto pode ser buscada especialmente no fato de que o tema mais amplo proposto – as formas de subordinação e de resistência – tem uma especial atualidade em nosso tempo; além de pensar uma formação identitária que aponta para um hibridismo cultural, sendo ela fruto das diferentes experiências vivenciadas ao longo do tempo, tanto pela opressão colonial, que vai gerar um sentimento de autodefesa, de anseios por transformações sociais, quanto pelas diferentes formas de silenciar as diferenças e as possibilidades da real inserção da mulher na subjetividade da nação.