Kamel Daoud, escritor contemporâneo argelino, em O caso Meursault (2013)
reescreve o clássico camusiano O estrangeiro (1942) e reapresenta a história a partir de um
outro ponto de vista narrativo: o do irmão do árabe assassinado, trazendo elementos silenciados
no romance primeiro, como a memória da violência colonial na Argélia e as subjetividades
árabes. Assim, a partir da memória de Haroum, irmão de Mussa, O estrangeiro é revisitado
criticamente e, nessa dinâmica, Daoud abre espaço para representações do islamismo na Argélia
e reconfigurações do sagrado em Camus. Proponho discutir tais representações do sagrado,
partindo da crítica pós-colonial, em especial, da perspectiva de Edward Said.