Em 2012, durante conferência na Commonwealth Foundation, a autora nigeriana
Chimamanda Ngozi Adichie disse: “lemos, não para ver como outras pessoas são como nós,
mas para vê-las, simplesmente; para vê-las de verdade”. Seu texto intitulava-se “Para instruir e
deleitar: uma defesa da literatura realista”; nele, Adichie fez uma emocionante apologia à
literatura como fonte de prazer e conhecimento, mas também de empatia, de cultura, de
sensibilidade. Seu realismo, bem exemplificado nos contos de No seu pescoço (Cia. das Letras,
2017), segue esta tendência: trata-se de pequenas incursões no cotidiano e na intimidade de
diversas mulheres africanas, unidas, porém, por sua marginalidade ao seu entorno: mulheres
pobres, traídas, migrantes, escritoras, lésbicas. A força do realismo de Adichie desponta no que
Nicholas Mirzoeff sugere como “o realismo da contravisualidade”: aquele que procura subverter
permanentemente as condições de existência. Em “O direito a olhar”, o autor norte-americano
partirá de teorias visuais para reivindicar aos excluídos o direito à existência, ao real. Este
trabalho pensa, a partir da leitura cerrada dos contos de Adichie, textos de Achille Mbembe,
Elizabeth Povinelli e Aghogho Akpome, a o decolonial na literatura e suas consequências para a
Teoria Literária do século XXI.
Palavras-chave: Chimamanda Ngozi Adichie; Literatura decolonial; Realismo.