Ricardo Aleixo, em texto sobre poema de Hans M. Enzensberger a respeito de Dante,
conclui que os versos do poeta alemão “são seus”, mas são lidos por seu leitor “como se fossem”
dele – são do leitor, afinal: “Este poema agora é meu. Este é um poema que você está lendo como
se fosse seu. Este poema é seu”. A provocação de Aleixo instaura uma série de deslocamentos no
modo tradicional de se compreender os fenômenos, articulados, da representação e da mímesis: o
texto não é de Dante, não é de Enzensberger, não é nem mesmo de Aleixo: as assinaturas vão
sendo rasuradas na medida em que os textos são publicados. O que se reivindica é que a
liminaridade (Walter Mignolo, 2003) não se limite à instância de autoria do texto, isto é, que não
esteja inscrita apenas na assinatura de quem o publicou, mas também, e, principalmente, no ato
de leitura, que pode resistir ao texto e ser, ele próprio, tanto na produção de sentido quanto no que
escapa ao sentido, o que se configura como liminaridade na representação de um texto literário.