Atuar como crítico literário estando dentro dos limites espaciotemporais da produção literária que é alvo de investigação é uma empreitada complexa que exige critérios para demarcar o reconhecimento e o destrinchamento de variantes. Não por acaso, parte dos críticos se mostram reticentes, evitando lançar prognósticos sobre a qualidade das obras, sobre autores que figurarão ou não no cânone e sobre a possível representatividade literária deles no circuito da crítica e historiografia literária brasileiras, dada a multiplicidade de formas e temas das produções narrativas contemporâneas. É o caso de Ítalo Moriconi (2002) que, em ensaio intitulado “A literatura ainda vale?” (2002), afirma que por conta dos variados temas e múltiplos procedimentos narrativos o adjetivo “contemporânea” funciona como um termo vazio a ser preenchido a posteriori pela crítica e pela história literária. Mas, se o papel do crítico é o exercício da avaliação e do julgamento, “[...] é preciso estudar literatura contemporânea, a qual se mostra efervescente e instigante a despeito do que pensa a academia” (OLIVEIRA, 2003). Assim, se há o risco do agir, vez que qualquer decisão implica em escolha e em exclusão, a recusa em elaborar qualquer tipo de síntese também incorre em risco. De um lado porque a isenção não é o melhor caminho para minimizar as incoerências que surgirão ao longo do percurso crítico. Ser interrogado nas escolhas que se faz é sinal de que o debate está aberto e que o objeto interrogado sempre inaugura novas leituras e que, fundamentalmente, todo ponto de vista, todo critério, toda categorização é relativa, pois não imune ao tempo; por outro lado, porque a ausência e/ou a forma de discurso anódino que evita o confronto, bem como “foge” de um posicionamento claro diante da cultura e da literatura contemporâneas pode estar a serviço de outros interesses. Para Paulo Franchetti (2012), o que se assiste hoje na vida literária brasileira é a “demissão da crítica” que, por sua vez, está ligada, dentre outros fatores, às necessidades de se ajustar aos imperativos da indústria e do comércio, jornalístico e livreiro. Apesar da fertilidade e multiplicidade da produção ficcional brasileira contemporânea, alguns críticos, entretanto, arriscam-se em tecer análises sobre estas produções e autores, na tentativa de definir, ainda que provisoriamente, traços e marcas desta época. Considerando que a proliferação de novos nomes e obras é de tal forma vasta e múltipla, este trabalho tem por objetivo apresentar e discutir algumas vozes da crítica literária em torno de uma literatura que, promovida por autores marginais e/ou residentes na própria periferia, possui como fator de reconhecimento o lugar de enunciação e a origem social dos seus autores.
Palavras-chave: FICÇÃO BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA, CRÍTICA LITERÁRIA, LITERATURA MARGINAL