The Years (1937) de Virginia Woolf possui uma clara demarcação cronológica: são 50 anos divididos em dez partes até a última seção intitulada “Present Day”. Os capítulos são nomeados por anos, exceto o último. Cada início de capítulo é descrito por imagens que variam entre estações e meses do ano. A literatura urbana evidencia-se em The Years, uma vez que todos os onze inícios de capítulos narram as transições do tempo, seja cronológico, seja meteorológico, da capital inglesa, exceto o capítulo 1911. Ao que se refere à impessoalidade, há o uso constante da terceira pessoa do singular ‘it’ nos sete inícios de capítulos. Essas cenas de paisagens interessa-me por causa da seguinte premissa que defendo neste trabalho: o projeto estético woolfiano esforça-se para alcançar o chamado life itself, isto é, um mundo esvaziado de eu. Nesse sentido, esses sete inícios de capítulos efetuam a ideia woolfiana de narrar frases cujos sujeitos são a cidade, o tempo ou indeterminado. The Years, penúltimo romance da escritora, não segue a mesma trajetória de transgressão das regras do romance realista de representação como fizeram To the lighthouse (1927) e The Waves (1931) porque oscila bastante o foco narrativo entre fluxos de consciência, discurso indireto livre e a retomada do discurso direto com o uso de travessões. To the lighthouse se detém muito constantemente a fluxos de consciência e ao discurso indireto livre. Nesse romance, temos a dupla representação da personagem Mrs. Ramsay, na escrita e em seu retrato a óleo que a personagem Lily Briscoe compõe no decorrer do romance. Essa duplicidade enfatiza todo potencial woolfiano em agregar a estética Pós-impressionista à sua obra moderna. Já em The Waves temos o ápice de sua técnica modernista por causa dos fluxos de consciência extremos. Virginia Woolf, conhecida justamente por seu projeto estético experimental das técnicas modernas de representação, incumbiu à poesia a tarefa de descrever esse “the world seen without a self” sob influência do Pós-impressionismo do século XIX, isto é, da pintura de natureza morta de Cézanne. No ensaio “The narrow bridge of Art” (1927), a autora britânica versa sobre a fusão entre poesia e prosa que são duas ferramentas aptas para descrever o mundo sensível e prosaico. Ela discute ainda sobre o possível mal-estar ocasionado pela poesia rimada e metrificada que já não atendia mais às necessidades da vida moderna. Isso significa dizer que a prosa não poderia mais narrar somente os assuntos referentes aos salões de festas, como fazia anteriormente, como também, versaria pequenos e reveladores momentos da vida por meio da linguagem sensível da poesia. Sendo assim, discutirei à primeira passagem de The Years, o ano de 1880, para pensar em como se configura a poesia em prosa woolfiana nesse romance motivada pelo ensaio crítico “The narrow bridge of Art”. Parece-me que o projeto estético experimental woolfiano, ou melhor, a literatura moderna é repleta de contradições, como bem definido por Octavio Paz, cujos estudos contribuirão minhas reflexões sobre o paradoxo mundo moderno.
Palavras-chave: ROMANCE MODERNO, NARRATIVA EXPERIMENTAL, POESIA EM PROSA, CONTRADIÇÕES