Este trabalho propõe-se a estudar os textos críticos a romances publicados no La Presse no período entre 1836 e 1850, analisando como os críticos avaliavam o gênero nos jornais não especializados em literatura. A fonte escolhida para este estudo foi o primeiro jornal diário parisiense de baixo custo e ampla circulação. Fundado pelo editor Émile de Girardin em 1836, ele marcou a história da imprensa francesa pela proposta inovadora: reduzir o seu preço para 40 francos anuais, metade dos habituais das publicações diárias, pautando seus ganhos em grande parte na publicidade, que passou a ocupar a quarta e última página completamente. A fim de fidelizar os seus leitores e atrair outros, Girardin apostou na publicação de romances seriados no espaço do folhetim, além de contar com a presença constante de artigos sobre a vida parisiense e críticas assinadas por nomes conhecidos como Théophile Gautier, Frédéric Soulié, Delphine Girardin e Sophie Gay. Eles eram responsáveis por algumas das críticas referentes a romances, que eram em grande parte escritas por críticos que também eram romancistas e que por esse motivo costumavam defender o gênero, valorizando o seu trabalho e de seus pares. A crítica periódica era, portanto, o espaço escolhido por eles para indicar romances e autores como modelos a serem seguidos, estabelecendo seu próprio cânone, estando Walter Scott, Alexandre Dumas, Chateaubriand, Victor Hugo e Eugène Sue entre os citados nas críticas do La Presse. Além dos objetivos pessoais dos críticos ao escrever sobre o gênero, os textos também cooperavam com os interesses comerciais do jornal, que pela necessidade dos ganhos com a publicidade buscava favorecer os livreiros anunciantes, inclusive ao escolher tratar de títulos que estavam em evidência nos anúncios, além de colocar indicações de locais de venda e preço nos textos críticos. A importância da publicidade para jornais como o La Presse fez com que críticos mais tradicionais como Sainte-Beuve acusassem os textos de serem apenas mais um tipo de anúncio, sem qualquer intuito avaliativo de fato. Pensando na relação entre a avaliação crítica e a publicidade e nos muitos interesses presentes no espaço destinado às críticas, esta pesquisa busca analisar os critérios utilizados para tratar dos romances e as discussões levantadas ao tratar do gênero. Pretende-se a partir da análise das críticas do La Presse e das diferentes disputas de interesses presentes nelas trazer mais elementos para o estudo da crítica ao gênero romanesco no século XIX na França, a capital cultural daquele momento e, portanto, essencial para a compreensão da produção da imprensa e literária do mundo todo.
Palavras-chave: JORNAL, CRÍTICA, SÉCULO XIX, FRANÇA