Uma imagem vigorosa para representar a Belle Époque encontra-se, segundo Jeffrey D. Needell, na Avenida Central. Fachadas grandiosas, arejamento espacial, modernização e civilidades forjadas oferecem traços para o retrato de um período caracterizado por cultuar a vertigem, a rapidez e a voragem. A vida ao ar livre, a preocupação extrema com a aparência, o sensualismo visual, a circulação de revistas ilustradas, o desenvolvimento técnico e a leitura de romances de escândalo, entre outras características, fazem do espaço público e da literatura uma grande avenida, na qual tudo se expõe em contínuo fluxo. No que diz respeito ao espaço gráfico, as revistas ilustradas refletem esse efeito avenida e esmeram-se em agilizar a disseminação de informações com fluidez. Em suas páginas, o tempo presente ganha notoriedade através de diferentes recursos que buscam dar visibilidade às transformações que estão ocorrendo no espaço urbano e que exigem novas formas de viver a modernização. Metaforicamente, folhear as páginas de revistas ilustradas equivale a percorrer uma avenida com muitos apelos visuais, em sucessão. Não será pois sem motivo que o estilo Art Nouveau, identidade gráfica para algumas revistas ilustradas, encarne o gosto da burguesia que, com avidez, encanta-se com o ornamental, deleita-se com motivos naturais, superposições, estruturas orgânicas, linhas fluidas, mas que também, contraditoriamente, não deixa de apreciar aspectos sórdidos da existência. A despeito deste contexto marcado por muitas variáveis, a proposta desta comunicação incide sobre um corpus muito específico: os sonetos de Olavo Bilac ilustrados por J. Carlos que irrompem nas páginas da revista Careta entre 1912-1914. Portanto, se o cerne desta comunicação reside nas relações entre texto, imagem e revista ilustrada, não é demais frisar que o tratamento aplicado à publicação dos sonetos bilaquianos comemora o retorno do autor de Tarde (1919) à imprensa, após um longo período de afastamento. A volta triunfal de Olavo Bilac ao seu “habitat” pode ser acompanhada nas páginas da Careta (1908-1960) — revista fluminense ilustrada. Ali, relações entre poema, artes visuais e gráficas, no período compreendido entre 1912 e 1914, realizam-se de modo bastante refinado para a retórica gráfica do período, conferindo a elas notória distinção, como bem atesta o diálogo entre as ilustrações de J. Carlos (1914-1950) e os sonetos de Olavo Bilac (1865-1918). Levando-se em consideração a presença marcante do Art Nouveau articulado ao Art Déco, estilos decorativos com ampla aplicação nas artes visuais da Belle Époque, pretende-se colocar em discussão o caráter ornamental e isolante atribuído às molduras que guarnecem os poemas bilaquianos, por entender que a moldura se articula aos sonetos para compor um conjunto em que texto e imagem interagem de diferentes perspectivas. Se a análise do conjunto revela desvios, rivalidades, dessincronizações e acréscimos hierarquizantes que colocam sob suspeição a convivência pacífica entre eles, a análise das molduras promove um questionamento sobre a função que elas desempenham, quando entram em contato com os sentidos do poema e com o olhar do leitor-espectador, porque reinventam um modo de ler que reflete a visibilidade evidenciada nas sociabilidades da Belle Époque.
Palavras-chave: BELLE ÉPOQUE, POESIA BRASILEIRA, REVISTA ILUSTRADA, IMAGEM