Tomando os sentidos de homologia em Baudelaire e Machado de Assis, na visada de uma literatura que se alimenta de fragmentações do mundo (coisas, sucatas, fragmentos textuais), que vê no palimpsesto não apenas a imagem metafórica diluída, mas um exercício de possibilidades, em que a sobreposição e a profusão de ingredientes, promovem a construção de um novo universo. Daí a pertinência de uma reflexão sobre os movimentos inventivos de Charles Baudelaire e da anti-narratividade do discurso de Machado de Assis analisando os procedimentos de bricolagem e interações intersemióticas. Sobre bricolagem, valemo-nos de Gérard Genette e de nossas percepções de procedimentos desconstrutivos/construtivos no texto dos dois autores. Nestas reflexões, bricolagem indica uma etapa relevante na construção literária, entendida como os recortes realizados pelo artista para a composição de suas obras. O segundo procedimento, da intersemioticidade, estabelece diretrizes de busca de ingredientes de outros sistemas na literatura, como da pintura, do desenho, da fotografia, entre outras artes. Os mosaicos sígnicos e os semi-símbolos expressam a circularidade aberta num processo de deglutição de sinais, emblemas e figuras, como guias do Cosmos construído por suas artes. Analisando tais procedimentos assinalamos que mais do que insistirmos em uma idéia muitas vezes volátil de pós-modernismo, a obra desses autores aprofunda e instiga para universos da modernidade que ainda estão por ser compreendidas.