Ao final do século XX, a história da literatura, como método de estudo literário, foi encarada como uma prática conservadora na vida acadêmica. Uma praxis quase obsoleta. Sua última aparição relevante ocorreu nos anos de 1980, com a polêmica aberta por Haroldo de Campos em relação aos pressupostos teóricos adotados por Antonio Candido em Formação de literatura brasileira, uma das opus magna da historiografia literária brasileira. Apoiado no pensamento pós-estruturalista de Jacques Derrida e no conceito de “horizonte de expectativa”, desenvolvido por Hans Robert Jauss, Haroldo denunciava o caráter nacionalista presente na ideia de “formação” como uma estratégia de legitimação canônica de obras esteticamente conservadoras, em sacríficio de obras ou projetos autorais mais “radicais”. Logo, o método diacrônico empregado por Candido foi associado a um tipo de pensamento racionalista excludente, incapaz de compreender e absorver o diferente. Esse julgamento, às vezes intransigente, coincidia justamente com a chegada dos estudos culturais e do multiculturalismo na literatura brasileira, e toda uma pauta a favor da diversidade e dos discursos de gênero. Em seguida, Silviano Santiago, defendendo uma postura pós-colonialista, acusará na moldura nacionalista da “formação da literatura brasileira” uma submissão às normas do Ocidente imperialista e racista, segundo uma visão reducionista eurocêntrica. Nesse cenário, o conceito de tradição proposto por Candido, primitivamente baseado na ideia de “vontade de fazer literatura brasileira” como princípio que atravessa gerações, conferido coesão e unidade ao sistema, desembocando em um conceito de identidade nacional una e coesa, chocava-se com o pensamento pós-moderno e sua valorização do fragmentário e do descontínuo. Nesse sentido, a reflexão de Jean-François Lyotard em A condição pós-moderna sobre a falência das mega-narrativas no fim do século XX foi mais um indício de inadequação do discurso da “formação”, pois o nacionalismo pode e deve ser lido como uma mega-narrativa. Essas perspectivas críticas sobre a falência da História, como disciplina e método, já estavam previstas nas reflexões de Walter Benjamin sobre o caráter imperial do discurso histórico, e no pensamento filosófico de Friedrich Nietzsche em sua Segunda consideração intempestiva, sobre “a desvantagem da história para a vida”. Porém, ao raiar do século XXI, assistimos a uma situação nova e (im)previsível: projetos no campo da crítica e da teoria literária que se propõem a traçar um panorama das tendências literárias contemporâneas, como por exemplo, Ficção brasileira contemporânea de Karl Erik Schollhammer e Contemporâneos de Beatriz Rezende. Nesse sentido, pretendemos demonstrar como há hoje um campo de expectativa para os estudos historiográficos e a proposição de novas ideias a respeito do “moderno” e do “contemporâneo”.