ANDREA ZEPPINI MENEZES DA SILVA, BRUNO BARRETTO GOMIDE
Primo Levi nasceu em 1919, em Turim, foi químico e escritor. Em 1943, fazendo parte do movimento de resistência à ocupação alemã, “Giustizia e Libertá”, foi detido pela Milícia fascista. Tinha 24 anos. Nos interrogatórios declarou sua condição de “cidadão italiano de raça judia”, pensando evitar a tortura e a morte. Como judeu foi mandado para um campo de triagem em Fóssoli e de lá para Auschwitz, onde ficou durante quase um ano. Dos 650 judeus deportados com ele, apenas vinte voltaram. Sobre essa experiência escreveu vários livros, tornando-se o grande paradigma da chamada “literatura de testemunho”, seja pela qualidade literária de sua prosa, seja por sua lúcida reflexão sobre o tema. Morreu em 1987, em sua casa, suspeita-se que tenha cometido suicídio. A maior parte de sua obra trata da experiência de Auschwitz, começando com É isto um homem?, escrito apenas dois anos após o fim da Segunda Guerra e da libertação de Levi do campo. Varlam Chalámov, escritor russo, nasceu em Vologda em 1907. Em 1929, estudante de Direito em Moscou, foi preso tentando divulgar o chamado “Testamento de Lênin”, onde o líder bolchevique alerta para o perigo representado por Stálin. Chalámov cumpre pena de 3 anos em Solovki, retornando a Moscou com a ideia de que tivera sorte: a prisão era um bom início de carreira para um jovem e promissor escritor. No “Grande Expurgo” de 37, onde milhares foram presos ou executados, Chalámov caiu novamente nas garras do Estado, desta vez com uma pena de cinco anos em Kolimá. Passa por campos de trabalho, de trânsito, de castigo, minas de ouro e carvão, vê a morte bem de perto, quase sucumbindo diante das surras diárias, das doenças, do trabalho extenuante e fatal, da fome crônica. Com uma pena adicional de 10 anos, volta para Moscou apenas em 56. Já em 54 começa a escrever sua principal obra, Contos de Kolimá, sobre sua experiência como prisioneiro ao longo de dezesste anos. Morre doente, cego, surdo, em uma instituição psiquiátrica, em 1982. Os dois autores tiveram experiências diferentes nos campos e de lá trouxeram impressões muito diversas, mas se encontram no que foi chamado de “literatura de testemunho”: prosa de alto teor testemunhal, memória transformada em literatura, convergência entre experiência, ficção, história. Para Chalámov, o campo foi uma escola negativa, seu legado é a destruição e a degradação do homem, enquanto Levi considera o campo uma universidade, pois ali ele teria aprendido a conhecer os homens. Visões opostas transmitidas em prosas secas, concisas, intensas. Mas por que escrever sobre o horror? Como escrever? O presente trabalho visa traçar alguns paralelos entre os dois autores, sobretudo no que tange às percepções sobre o campo e à transformação literária da experiência, bem como às questões suscitadas por essa tarefa, debatidas e resolvidas à maneira peculiar de cada autor.