Este trabalho tem como objetivo principal demonstrar a emergência do insólito como uma estratégia de ressignificar as fronteiras existentes entre os chamados gêneros literários. A tradição crítica já estudou alguns gêneros presentes na literatura ocidental. No entanto, sabe-se que a produção ficcional é fugidia e a simples estruturação de gêneros não é mais uma resposta para as questões que os textos evocam. Um exemplo claro da impossibilidade de classificação é a obra Objecto Quase (1978), do autor português José Saramago. É a reunião de seis contos que exploram o insólito e retratam a absurdidade da existência do homem, além de retomar o passado mítico esvaziado de seu poder mágico (o que seria uma negação do maravilhoso e da magia). Deste modo, fazer um estudo sobre as narrativas escritas no século XX vinculadas a um imaginário que lida com a irrupção de elementos extraordinários ou sobrenaturais no enredo ficcional se faz necessário para que seja traçada uma “cartografia” em que sejam delineados e apontados a emergência do efeito insólito como resposta e metamorfose ficcional do contexto de produção do autor escolhido.