O escritor paraense Dalcídio Jurandir teve sua trajetória literária marcada pela publicação de onze romances, dez dos quais formam o conjunto de narrativas ambientadas na Amazônia, que ficou conhecido como Ciclo do Extremo Norte: Chove nos Campos de Cachoeira (1941), Marajó (1947), Três Casas e um Rio (1958), Belém do Grão Pará (1960), Passagem dos Inocentes (1963), Primeira Manhã (1967), Ponte do Galo (1971), Os Habitantes (1976), Chão de Lobos (1976) e Ribanceira (1978). Com exceção do romance Marajó, as demais obras narram a história de vida do menino Alfredo, desde a sua infância em Cachoeira do Arari, seus anos na escola em Belém, até o início da fase adulta quando volta para o meio rural, indo trabalhar na cidade de Gurupá. Mesmo centrado no desenrolar dos dramas do personagem principal e sua relação com as cidades que mora e as pessoas com quem convive, impressiona o grande número de mulheres que colaboram para o desenvolvimento das narrativas, contribuindo de forma marcante para a construção dos enredos e dos dramas dos personagens centrais das obras, mesmo não sendo, em sua maioria, protagonistas dos romances. Dentre essas mulheres, nos chama atenção duas delas de dois romances diferentes as quais, moradoras da periferia de Belém, dividem com Alfredo o protagonismo de tais obras e tomam a voz narrativa para si – que normalmente no Ciclo é em terceira pessoa – ao contar a história de suas viagens pelo interior da Amazônia, são elas: D. Cecé, (de Passagem dos Inocentes), que conta a sua fuga da Ilha do Marajó quando jovem e D. Nivalda, (de Chão dos Lobos), que, viúva, relembra as viagens que fez com seu marido, comandante de um navio, pelo interior da Amazônia. O presente trabalho, portanto, objetiva analisar o percurso dessas duas personagens nos romances que fazem parte, observando como por meio da narração das suas viagens pela região amazônica, conseguem subverter a ordem social em que estão inseridas. As faces femininas representadas por Dalcídio Jurandir nos ajudam a desvelar a sociedade amazônica do início do século passado e também como essa sociedade foi retratada pela literatura brasileira. Investigar, pois, as personagens femininas dos romances produzidos por Dalcídio Jurandir se faz necessário para se obter uma melhor compreensão de suas obras, as quais possuem como forte aspecto a denúncia social, bem como nos possibilita observar o papel do escritor paraense no contexto da literatura nacional de grande parte do século XX.