ARISTELSON GOMES DOS SANTOS, OLGA MARIA CASTRILLON MENDES
DE O PARAÍSO PERDIDO À FIGUEIRA-MÃE: O DESEJO DO HOMEM DE REAVER O SEU ESPAÇO PERDIDO, POR CAUSA DO PECADO Aristelson Gomes dos Santos (Mestrando) Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) A ideia de pecado é algo eminente no pensamento do gênero humano desde in illo tempore. (Cf. Eliade, 2013). Na visão religiosa do Cristianismo, o pecado se originou no Jardim do Éden com o ato de desobediência do primeiro casal: Adão e Eva. Não obstante, a literatura tem se preocupado em trazer questões hipotéticas para discutir o porquê da rebelião do homem contra seu Criador, bem como, o desejo dele de realojar-se no Paraíso. Uma das obras de grande expressão sobre este tema é a Bíblia, o livro sagrado para o Cristianismo, nela está um dos relatos hipotéticos que narra sobre a Queda do gênero humano, como também, o manual que o homem deve seguir para reaver, novamente, seu espaço perdido. Partindo deste pressuposto, propomos fazer uma interpretação literária usando duas obras; a primeira o poema épico de John Milton O Paraíso perdido (1995), escrito no século XVII, tratando da revolta de Satã contra Deus, da criação do gênero humano, da sedução de Adão e Eva, e sua expulsão do Paraíso; a segunda é o romance contemporâneo do escritor brasileiro Ricardo Guilherme Dicke, Madona dos Páramos (2008), publicado em 1981, recriando no sertão mato-grossense uma espécie de Paraíso, proposto na Figueira-Mãe, um lugar de repousa e felicidades eternas. Também faremos uma incursão nos relatos bíblicos, a fim de entender os pontos de vistas que cada obra sinaliza. As obras que fazem parte desta interpretação pertencem a dois sistemas e gêneros literários diferentes; o poema épico de Milton marca, significativamente, a literatura inglesa, poetizando a revolta de Satã contra Deus, ainda estando no céu, a expulsão dele e seus anjos rebeldes e o seu engenho para corromper a criação “perfeita” de Deus: o homem. Por outro lado, temos em Ricardo Guilherme Dicke um romance contemporâneo que revisita esta temática, no sertão do Estado de Mato Grosso, com um bando de foragidos que saem da cadeia pública de Cuiabá em busca da tão sonhada Figueira-Mãe, um Paraíso estabelecido nas Serras dos Martírios, porém, muito distante e sem um ponto fixo de localização. Nas duas obras temos o homem como tema central, em O Paraíso perdido, ele torna-se objeto de disputa entre Deus e o Diabo e, em Madona dos Páramos, os homens se vêem soltos e sozinhos num mundo em que sentem a presença e a força do bem e do mal, porém incapazes de lutar contra estas forças, entretanto, não perdem as esperanças de encontrar o Paraíso, pois lá viveriam num mundo de beleza e felicidade completas. Tanto no poema quanto no romance, a ideia de transgressão e pecado é sentida pelo homem. No poema, Milton se atenta em descrever sobre a briga dos deuses que, consequentemente, leva o homem a cair em tentação; já no romance, os homens estão totalmente imersos num mundo em que o mal impera desde muito tempo, são seres ficcionais que lutam para estabelecerem-se num ambiente em que a tensão do bem e do mal é muito forte e, a única saída é caminhar pelo sertão de matas fechadas a fim de encontrarem a Figueira-Mãe. Em ambas as obras tem-se a retratação do mitológico Paraíso, o sentimento de perda e o desejo de realocação é eminente no homem das duas obras. Esta é a linha tênue que o homem precisa lidar desde sua expulsão do Jardim do Éden: lutar com todas as forças para romper a barreira que o separa do seu Criador e reaver seu espaço no céu.
Palavras-chave: PECADO, PARAÍSO, FIGUEIRA-MÃE, LITERATURA