O presente trabalho almeja verificar pontos de interseção entre Os escravos (1847-1871) e Contos Negreiros (2012), de Castro Alves e Marcelino Freire, respectivamente, não apenas no que tange o tema - ambos problematizam a escravização à qual são submetidas as minorias políticas no Brasil - mas também quanto às suas formas estéticas, sobretudo no que diz respeito à oralidade, visto que os dois autores escrevem textos para serem lidos em voz alta para o público. Eles realizam, portanto, o que Zumthor (1997) denominou “poética da oralidade” ou “performance”, em que pelo menos a transmissão e a recepção do texto literário passam pela voz e pelo ouvido. Diante das obras em questão, “sentimos intensamente que uma voz vibra originariamente em sua escritura e que eles exigem ser pronunciados” (ZUMTHOR, 1997, p.40). Destarte, analisar-se-á de que forma essa voz ressoa na letra, no texto escrito. No tocante a Marcelino Freire, a oralidade assume ainda outra função, uma vez que o autor se preocupa em construir a voz de cada narrador-personagem a fim de identificá-los socialmente. A construção de vozes marginalizadas socialmente interfere na leitura performática do autor, direcionando as pausas, o ritmo, a hesitação, a altura da voz, por exemplo. Sendo assim, nos apoiaremos principalmente nos estudos, relacionados à leitura em voz alta, de Silva (2006); Oliveira (2010) e Zumthor (1993; 1997; 2007).