A personagem Salomé sai da antiga historiografia religiosa e da representação artística medieval para tornar-se um mito literário e iconográfico, através de inúmeros artistas plásticos e escritores que se propuseram a representá-la, na segunda metade do séc. XIX. Tal como é concebida, sua imagem reproduz a deificação da virgindade absoluta, adequando-se a um tipo específico de artista: o poeta fin-de-siècle, excessivamente absorvido pela atmosfera do ennui. A época favorecia o diálogo entre literatura e artes plásticas e, mais do que nunca, a representação de uma personagem estava intimamente vinculada à criação artística. Como componente diegético nos textos literários, o suporte expressivo de Salomé deve levar em consideração sua imagem. Pertencente originariamente a um discurso religioso, ela foi reinventada a partir da multiforme iconografia do episódio bíblico. Ao estabelecer o confronto entre algumas das representações imagéticas da personagem e suas composições literárias parafrásticas, ainda que de forma concisa, o presente artigo objetiva apontar caminhos em uma vertente do comparativismo ainda pouco explorada.